Diário da soltura

por Luis Pires

O site Basfémias surpreende-me pela visão realista de verdade quotodiana portuguesa. O “Diário da Soltura” mostra a verdade do dia a dia do confinamento português.

“As pessoas lá estão, à porta da padaria, esperando a vez. Cumprimento-as e talvez até tenham retorquido algo atrás do uniforme, mas não quero saber. Passa um carro de vez em quando. A polícia também passa. Sorrio prontamente para eles, que seguem em frente, talvez para cumprir rotina, talvez para encontrarem um pato a quem possam extorquir a pensão.

Nunca saberemos, nem interessa: agora, qualquer polícia que se veja leva com a chapa–5, a de pertencer a um grupo onde existem idiotas ocupados a chatear e a roubar pessoas.
Ninguém na esplanada, pois ainda faltam dois dias para esta não ser tão perigosa como comer dentro do seu pró- prio carro. Será que a partir de segunda se pode comer no carro? Talvez de porta aberta, para alegar que é uma esplanada.

Parecemos habituados a isto. Quer dizer, os outros parecem habituados, eu continuo a sentir-me extraterrestre num planeta bizarro, com semelhanças com a Terra, mas habitado por fascistas e estúpidos. Na televisão dizem-me que devo ter medo dos fascistas, a saber, do Mussolini e do Ventura.

Curiosamente, nenhum deles é primeiro-ministro ou presidente. “É como fazem na Europa”. Ah! Estou mais des- cansado.
Estamos a “desconfinar”, que é o inverso de “confinar”. Só preciso descobrir o significado de qualquer uma delas e passarei a perceber o significado das duas. Contudo, não me parece que alguma vez venha a descobrir.

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