Eleições: Chega “capta bem” a insatisfação dos emigrantes portugueses – investigador

O geógrafo e investigador Jorge Malheiros afirmou que o Chega “capta bem a insatisfação dos emigrantes portugueses”, em cima da qual constrói uma mensagem de que vai mudar o que está mal para estas comunidades.

Investigador no Centro de Estudos Geográficos do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa, Núcleo MIGRARE (Migrações, Espaços e Sociedades), Jorge Malheiros recordou que André Ventura propôs, em tempos, criar um Ministério da Emigração.

“Ao propor na hierarquia da governação uma estrutura de nível mais alto, um Ministério, e dizer aos emigrantes que vai criar isto, o sinal que está a dar é: eles, os partidos políticos que têm estado no poder, não fizeram, mas nós vamos fazer, vamos dar-lhes a relevância que merecem”, adiantou.

Referindo que os eleitores nem sempre se dão ao trabalho de confirmar se o que oralmente os líderes partidários propõem é depois colocado em papel, Malheiros disse que “a proposta oral é aquela que chega, a que vai muitas vezes pelas redes sociais”.

“Estas mensagens, face a uma população que se sente marginalizada e menos tida em conta, colhem bem e o Chega ganha votos”, disse.

Foi o que aconteceu nos círculos da Europa e de Fora da Europa, pelos quais este partido conseguiu eleger dois deputados.

Jorge Malheiros defendeu mudanças no sistema de votação, para que esta população deixe de sentir que conta pouco.

“Ainda temos um sistema de votação em que a representação [o número de eleitos pela emigração] é de facto muito baixo face aos votantes” e que “deve ser aumentado”, considerou.

E acrescentou: “se queremos que a nação para lá das fronteiras do Estado continue a estar envolvida com os processos sociais e políticos do país de origem, com 1,5 milhões de votantes e 335 mil votos, fazendo uma analogia com os distritos e não contando os eleitores, mas os votantes, a representação dos emigrantes no parlamento português deveria ser aumentada”.

Mas também a forma de votação deveria ser alterada, pois o actual sistema conduz a “um enorme desperdício de votos”, defendeu.

Jorge Malheiros referia-se, nomeadamente, aos votos nulos, que foram 122.327 (36,68% dos votos), principalmente devido a irregularidades na inclusão da cópia do cartão do cidadão na carta com os boletins de voto enviados para Portugal.

“Só estas pequenas coisas, que não têm sido feitas, ajudariam as pessoas a acreditar mais no sistema”, disse, congratulando-se com o aumento da participação dos eleitores portugueses no estrangeiro, que subiu de 173.792 votantes em 2022 para 333.520 votantes nas legislativas de 10 de Março.

Segundo os resultados definitivos destas eleições, o PS e o Chega obtiveram um deputado cada pelo círculo da Europa, enquanto a Aliança Democrática (AD) e o Chega obtiveram um deputado cada pelo círculo Fora da Europa.

A AD venceu as eleições e o líder do PSD foi indigitado primeiro-ministro pelo Presidente da República. Luís Montenegro apresentou o seu Governo dia 28 de Março e a posse está prevista para 2 de Abril.