EMIGRANTE PORTUGUÊS NOS EUA INVESTE “MILHÕES DE EUROS” EM PROJECTO NA TERRA NATAL

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

Aos 19 anos, o transmontano Lino Marçal, como tantos outros, trocava a sua Chaves natal pela cidade de Danbury, no estado de Connecticut. A aventura americana de emigração era apenas o início de uma epopeia de vida que, décadas depois, o levaria de regresso a Trás-os-Montes com um sonho do tamanho da nação que o acolhera e onde iria prosperar…

Depois de ter feito nome de prestígio como construtor de moradias num dos códigos postais mais abastados do país – Greenwich, no esverdeado condado de Fairfield, há cerca de uma década, Lino Marçal percorre o caminho inverso: pegou na filha e na mulher e regressou ao norte de Portugal.

“A princípio não foi fácil, sobretudo para elas”, reconhece, em entrevista exclusiva concedida ao jornal LUSO-AMERICANO. “Eu tinha o meu projecto e estava mais ocupado. Entretanto nasceu-nos um filho lá e hoje estamos totalmente integrados na vida portuguesa.”

O ‘QUINTA DO CASTELO’

É o “projecto” a que se refere que o mantém em constante ponte aérea entre Portugal e os EUA. Quando por cá, e vem de 5 a 6 vezes por ano, continua a manter activa a empresa de construção de casas – a ‘Lino Marçal Contractor’ – que fundou logo depois de, a princípio, ter tido igualmente uma firma de arquitectura paisagística; quando em Chaves, o seu tempo é ocupado a desenvolver o ‘Quinta do Castelo’, de que fala com um brilho especial nos olhos.

“Está a dois quilómetros e meio do centro de Chaves, inclui já 3 hectares de vinhas e terá outros 3 a plantar”, pormenoriza. “Quero dedicar este projecto aos emigrantes que vão de férias a Portugal ou que regressam de vez e apostar nas nossas tradições como um todo.”

O enorme complexo incluirá um restaurante de conceito ‘farm to table’ onde quase tudo será de produção própria – da cozinha regional de fumeiro aos produtos de panificação e pastelaria, incluindo os lacticínios e azeites. A produção vinícola, a cargo do enólogo Francisco Gonçalves – que transitou das melhores casas do Douro para a ‘Quinta do Castelo’, já conta com produção “a rondar as 16 mil garrafas de tinto e branco anualmente.”

EM HARMONIA COM A NATUREZA

Marçal concebeu o projecto em harmonia com a natureza que o rodeia. “Em vez de plantas, vamos ter árvores de frutos de tratamento biológico para que os nossos hóspedes os possam apanhar e consumir”, diz. “Quero que se sintam em casa com o máximo de conforto. Esse é o meu conceito de hospitalidade.”

Para tirar o maior proveito dos recursos naturais da zona, construiu uma serração de pedra industrial que será utilizada mesmo para os acessórios de casas-de-banho. As 40 suítes serão uma espécie de extensão da própria natureza do local.

Apesar de se queixar da burocracia, Lino Marçal não se arrepende do investimento que está a fazer. O Turismo de Portugal, a princípio, torceu-lhe o nariz… “Achavam o projecto muito ousado para a região”, nota. Hoje tem o aval da câmara de Chaves, “que acredita no empreendimento”, avaliado, diz, em “muitos milhões de euros.”

Enquanto se prepara para uma abertura faseada lá para “primavera ou verão de 2022”, lembra que, para se investir em Portugal, são necessários três requisitos: “Paciência, paciência, paciência.”

SONHA CONSTRUIR MINI-CASTELOS NA AMÉRICA

Natural de Serra da Padrela, Valpaços, Lino Marçal mantém intacta a firma de construção de casas em Greenwich e todas as parcerias, incluindo sub-empreiteiros, “sem as quais teria sido impossível chegar aqui. A nossa grande aposta é a aquisição de lotes em áreas valorizadas de Greenwich onde construímos casas para venda. Dadas as particularidades e a qualidade da nossa construção, com acabamentos de topo, hoje somos mesmo uma referência aqui.”

Nos 15 anos de empresa, terá posto no mercado mais de 30 casas, com preços a variarem dos 3 aos 5 milhões de dólares – “mas já as fizemos de 40 milhões.”

Reserva uma palavra de gratidão ao cunhado, Mário Alves, que, deste lado do Atlântico, é peça fundamental da engrenagem.

Para Marçal, que sonha um dia edificar mini-castelos em Greenwich, o sonho americano está sempre aquém “porque na verdade sou uma pessoa que não vê limites quanto àquilo que é possível fazer. E tenho um lema em inglês: Do what you love and you don’t have to work one day in your life.”