ENTREVISTA EXCLUSIVA: Cônsul-Geral de Portugal em Nova Iorque, Luísa Pais Lowe
Por HENRIQUE MANO | News Editor
Luísa Pais Lowe assumiu há cerca de um mês o cargo de cônsul-geral em Nova Iorque, uma vasta zona consular com mais de 50 mil portugueses inscritos cuja área de jurisdição se expande a todo o estado de Connecticut e a outras regiões dos Estados Unidos (incluindo territórios insulares).
Em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO, a diplomata lisboeta de 57 anos, que vem de um posto na Eslovénia, diz-se apostada “muito na vertente da informação” e em querer melhorar o que designa “serviços consulares de proximidade”, descentralizando o consulado na medida do possível.
Desde a sua chegada, o Consulado-Geral da 2.ª Avenida admitiu já um novo funcionário, está em processo de contratação de um segundo, eliminou a necessidade de marcação para levantamento de determinados documentos e reiniciou as permanências consulares em Connecticut, que não aconteciam desde o Outono.
“Em cada acto consular que nós fazemos, estamos a ajudar uma pessoa, a fazer uma pequenina diferença na sua vida”, afirma Luísa Pais Lowe.
LUSO-AMERICANO: Que primeiras impressões colhe da presença portuguesa da sua área consular?
LUÍSA PAIS LOWE: Cheguei a Nova Iorque há um mês e, desde o primeiro dia, tenho procurado conhecer o máximo de pessoas, contactar com dirigentes associativos em todas as áreas de actividade e geografias desta área de jurisdição consular, que cobre não apenas Nova Iorque mas os estados de Connecticut e Michigan e ainda Porto Rico, as Ilhas Virgens Americanas e as Ilhas Caimão. Espero poder expandir esta actividade de apresentação e diálogo com toda a área consular e a seu tempo. As impressões que tenho colhido até agora são excelentes, temos aqui uma grande comunidade, com uma presença muito forte, uma implantação antiga mas com novas gerações cada vez mais integradas no país de acolhimento mas que, ao mesmo tempo, mantêm uma ligação forte a Portugal. É uma comunidade que é um modelo de integração, com cidadãos que têm o melhor de dois mundos. O meu intuito é chegar ao máximo de pessoas e também dizer que estou disponível e aberta ao diálogo e a tudo o que me queiram dizer e perguntar.
LA: De que forma planeou iniciar este seu novo cargo e introduzir melhorias no funcionamento do Consulado?
LPL: Comecei por delinear uma espécie de missão e defini três princípios pelos quais me quero gerir: serviço, comunicação e proximidade (chegar às pessoas). Dentro destas três vertentes, fui definindo aquilo que podia ir já fazendo: o serviço, que pode ser sempre melhorado. Temos a vantagem de ter em Lisboa autoridades bem cientes de como a digitalização dos serviços é importante; hoje em dia é possível prestar uma série de serviços online, sem a necessidade de o utente se deslocar ao consulado. Por outro lado, tomei também algumas decisões concretas, naquilo que não é digital mas que pode depender da vontade humana, digamos assim, e identifiquei até onde é que podia ir nesta fase com poucos funcionários. E a primeira coisa foi: deixou de ser necessário agendar marcação para vir levantar cartões de cidadão e passaportes. Desde que venham munidas respectivamente dos códigos PIN ou do recibo, a nossa recepção está instruída para deixá-los vir aqui ao consulado levantar os seus documentos. Por outro lado, há imensos actos consulares que podem ser feitos por correio: uma inscrição consular, um pedido de nacionalidade.
LA: Como está a enfrentar a situação da escassez de pessoal?
LPL: Tenho o prazer de anunciar que já foi contratado um primeiro funcionário, que iniciou funções há uma semana e está a fazer formação porque todos os actos consulares requerem formação própria e credenciação de segurança. Este funcionário está neste momento na recepção a atender as pessoas e telefones e a responder a e-mails com dúvidas, para podermos dar melhor resposta. Estou agora quase a concluir um segundo concurso para o recrutamento de um outro funcionário e penso que, no verão, já teremos mais uma pessoa connosco. Seremos, incluindo eu, seis. E temos o adjunto da coordenação do ensino do português [José Carlos Adão] a trabalhar nesta área consular, que se ocupa exclusivamente de questões de cultura e língua portuguesa e faz um grande trabalho. E não podemos ser mais porque as instalações são pequenas e não haveria lugar para sentar mais ninguém.
LA: Como vai lidar com as chamadas permanências consulares?
LPL: São, no fundo, serviços consulares descentralizados. Na semana passada, retomámos as permanências consulares no estado de Connecticut. Estavam suspensas desde o Outono de 2021. Uma das nossas funcionárias deslocou-se a Naugatuck para fazer uma permanência consular de dois dias. Vamos tentar manter uma periodicidade mensal. Sei que há um interesse muito grande em que o Consulado expanda estes serviços de proximidade a mais áreas. O que posso prometer é que, logo que tenha uma equipa suficientemente grande que permita que uns saiam e outros fiquem aqui a atender os utentes, pedirei a devida autorização de Lisboa para o fazer.
LA: Que papel devem desempenhar as agremiações luso-americanas na dinâmica associativa actual?
LPL: A nossa política para as comunidades portuguesas passa muito pelo apoio ao associativismo. Há apoios específicos que são dados às associações para que desenvolvam projectos de cariz social, cultural ou de cidadania. O associativismo nesta área consular é muito dinâmico e vital. Estamos a ver as novas gerações a ascender a posições de liderança política, CEO’s de empresas, etc., graças ao caminho aberto pelos pais e avós.
LA: É frustrante para si, como diplomata, olhar para a Europa de hoje e notar que a força da diplomacia por vezes não impede conflitos armados entre os povos?
LPL: A diplomacia foi feita precisamente para evitar que divergências entre países escalem ao ponto de deflagrar em conflitos. Infelizmente, nem sempre é possível, mas, se não houvesse diplomacia e milhares e milhares de diplomatas de todos os países a trabalhar dia e noite (porque nós não temos horário), penso que o mundo estaria bem pior. Idealmente, temos que trabalhar na prevenção dos conflitos; quando o conflito deflagra, temos de trabalhar na sua gestão e na construção da paz.
PERFIL | Luísa Pais Lowe
•Luísa Pais Lowe começou a carreira diplomática em 1989 e é ministra plenipotenciária de 2.ª classe.
•Antes da sua colocação em Nova Iorque, como cônsul-geral, desempenhou as funções de encarregada de negócios na Eslovénia.
•Foi anteriormente cônsul-geral de Portugal em Hamburgo, conselheira política sénior na Embaixada de Portugal em Washington, DC e representante permanente adjunta junto da Organização para a Cooperação e Defesa da Europa em Viena.
•Passou ainda pela Embaixada de Portugal em Bona e fez comissões de serviço nas Missões Permanentes de Portugal junto da ONU, em Nova Iorque e em Genebra.
•Foi igualmente assessora diplomática do Primeiro-Ministro e conselheira diplomática e económica do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, tendo ainda desempenhado várias funções junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros afecta a diferentes áreas de actuação.
•É formada em Ciências Políticas e Relações Internacionais pelo Instituto Superior de Ciências Políticas e Sociais da Universidade de Lisboa e bacharel em Língua e Literatura Alemã pela Universidade Ludwig-Maximilian de Munique.
•Nasceu a 4 de Julho de 1964 em Lisboa, Portugal, e é casada.