EXCLUSIVO | LUSO-AMERICANA É CHEFE DE GABINETE DO DIRECTOR DE SEGURANÇA PÚBLICA DA CIDADE DE NEWARK

Por HENRIQUE MANO | Newark, NJ

É filha de emigrantes de São Paio, Gouveia, região da Serra da Estrela, a chefe de gabinete do Director de Segurança Pública da cidade de Newark, Fritz G. Fragé. Debbie Teixeira chega assim a um dos postos mais altos da hierarquia administrativa naquele sector. A profissional de polícia é igualmente a primeira mulher de origem portuguesa a chegar à patente de capitão no Newark Police Department.

A luso-descendente nasceu no St. Barnabas Hospital, em Livingston, mas faz questão de dizer ter crescido no Ironbound. “Fiz os estudos primários na Wilson Avenue School e transitei depois para o Science High School”, conta a capitã Debbie Teixeira, na entrevista exclusiva que concedeu ao jornal LUSO-AMERICANO no seu gabinete no edifício-sede da Polícia de Newark.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | A capitã luso-americana Debbie Teixeira na sede da Polícia de Newark, em New Jersey, onde tem o seu gabinete

O sonho de carreira, “quando acabei o liceu, era ser professora e nada mais”, confessa. “Entretanto, os meus pais mudam de casa e decidi trabalhar um ano sem estudar para poupar dinheiro e poder ir para a universidade. O tempo passou e, ao trabalhar numa companhia privada de segurança, encorajaram-me a concorrer a um lugar na polícia. Acho que acabou por ser a decisão mais acertada que tomei na vida.”

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Fachada da sede da Polícia de Newark

Em 2002, Debbie Teixeira enverga pela primeira vez a farda de agente da Polícia de Newark, após ter passado pela respectiva academia de formação. Inicia carreira na esquadra do Bairro Norte, onde esteve 6 meses, passando depois para a “Safe City Task Force”. Passa ainda pela 3.ª Esquadra do Ironbound e, em 2016, a trabalhar no gabinete do então chefe Anthony Campos, sobe a sargento. De 2007 a 2009, fica afecta à emissão de licenças de operação na área da restauração, integrando depois pelo esquadrão de combate a furtos – onde permanece 9 anos.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | Debbie Teixeira é filha de emigrantes serranos e começou carreira em 2002

“Quando estive na Community Focus Team, uma unidade de patrulha, dei treino e formação a novos agentes que se juntavam à Polícia de Newark”, diz. 

Antes de em 2019 ser promovida a tenente (no mesmo ano em que fica mãe), Debbie Teixeira deu ainda o seu contributo para uma unidade especial de apoio a vítimas de crimes. Em 2021 é nomeada directora associada na Academia de Polícia do Condado de Essex, período em que chega à patente de capitão, em Junho de 2022 – assumindo então o cargo de “chief of staff” do Director de Segurança Pública da cidade de Newark.

A luso-americana é igualmente quem, desde Março de 2021, conduz as cerimónias de graduação dos novos agentes que entram para a Polícia de Newark.

Teixeira, paralelamente à carreira, acabaria ainda por obter formação superior pela Seton Hall University e Fairleigh Dickinson University.

Foto: CORTESIA DEBBIE TEIXEIRA | A luso-descendente no inocio de carreira

A capitã reconhece que, “como mulheres, nesta carreira, enfrentamos desafios que nos são peculiares. Afinal, esta ainda é uma actividade profissional muito dominada pelos homens”, refere. “Como mulheres, demonstramos mais empatia e se calhar recorremos menos à utilização da força e mais ao diálogo. Há, aliás, números e estatísticas que o comprovam; por outra lado, exige-se de nós o dobro no que toca à demonstração de competências e qualidades em relação aos colegas homens.”

O facto de ser bilingue “foi importante para a minha carreira policial em Newark”, nota. “Falo português desde os 4 anos de idade, vantagem que me foi útil ao longo destes anos em que estive em comunidades onde se falava português e espanhol. Fez toda a diferença.”

A capitã, apesar de ter saudades de dar formação e do trabalho de detective, também considera “muito estimulante” a sua actual posição, “onde tenho aprendido bastante sobre diferentes ângulos ligados ao complexo funcionamento deste departamento. Tem sido uma aprendizagem muito interessante.”

A profissional da lei e da ordem lembra que “quando não estamos de farda, também somos humanos, temos família, sangramos como toda a gente e temos sentimentos. Quando alguma situação mais trágica acontece, não é planeada, são as circunstâncias inerentes ao nosso trabalho com que nos confrontamos diariamente que assim o determina. Mais: quando regressamos a casa após um dia de trabalho, temos de saber separar o stress da nossa actividade do convívio familiar (presenciamos situações envolvendo crianças e idosos que não são fáceis, e às vezes parece que a farda nos desumaniza perante a sociedade).”

A capitã Debbie Teixeira diz que o pai não gostou muito da sua escolha de profissão, conhecendo-lhe os riscos, “e a minha mãe acho que ainda hoje às vezes não dorme por minha causa… Dá-me todo o apoio mas continua a ter receio do que me possa acontecer.”

A capitã sabe que a realidade do mundo de hoje torna ainda mais complicada a actividade policial, “mas aprendi nestes anos de carreira que é cada vez maior o número de pessoas que compreende e apoia o nosso trabalho. Trata-se, aliás, de uma profissão muito gratificante, virada para o serviço público.”

De acordo com a hierarquia da Polícia de Newark, o próximo passo para Debbie Teixeira seria chegar a sub-chefe, cujo teste espera fazer “quando a ocasião se proporcionar.”