EXCLUSIVO | Português da Califórnia é líder mundial na produção de batata-doce
• Por HENRIQUE MANO | News Editor
Aos 80 anos, Manuel Eduardo Vieira olha para trás com serenidade e gratidão. Dono da A.V. Thomas Produce, líder mundial na produção de batata-doce e yam orgânicos, o empresário português natural da ilha do Pico não esquece as origens nem o caminho árduo que o levou a transformar uma pequena exploração agrícola num império que hoje emprega 1.700 pessoas na época alta e movimenta, acredita-se, entre cem e mil milhões de dólares por ano.

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | O empresário Manuel Eduardo Vieira

Entrada para a gigantesca empresa familiar A.V. Thomas Produce, em Livingston, estado da Califórnia
“Vendemos no ano passado 100 milhões de quilos – 200 milhões de libras – de batata-doce”, revela Manuel Eduardo Vieira em entrevista exclusiva ao LUSO-AMERICANO, com a humildade e a fé que sempre o acompanharam. “Era impossível imaginar, quando emigrei em 1962, com 17 anos, o que seria o meu futuro. Impossível imaginar a graça que Deus me deu durante estes 63 anos de emigração”.
🍠Das Lajes do Pico para o mundo

Foto: JORNAL LUSO-AMERICANO | O empresário Manuel Eduardo Vieira é natural da freguesia das Lajes do Pico, Açores, e emigrou para os Estados Unidos no início da década de 1970

“Vendemos no ano passado 100 milhões de quilos – 200 milhões de libras – de batata-doce”, revela Manuel Eduardo Vieira em entrevista exclusiva ao LUSO-AMERICANO
Natural da Silveira, freguesia das Lajes do Pico, Açores, Manuel Vieira deixou o arquipélago aos 17 anos rumo ao Rio de Janeiro, onde estudou contabilidade e administração, trabalhou e constituiu família (a mulher é transmontana da zona de Chaves). “Tive três filhos no Brasil. Viemos aos Estados Unidos em 1972, para o casamento do meu irmão – e por cá ficámos”.
Instalado em Gustine, no vasto vale de São Joaquim, mergulhou no mundo da agricultura e aprendeu os métodos californianos de cultivo. Cinco anos depois, o destino voltava a chamar por ele. “Em 1977, surgiu a oportunidade de comprar a companhia A.V. Thomas Produce, que pertencia ao meu tio, António Vieira Tomás. Trabalhara lá antes – e decidi arriscar. Comprámos a empresa, que tinha apenas 20 acres de terreno cultivado. Com a graça de Deus, muito trabalho, dedicação, rigor e disciplina, fomos crescendo. Hoje temos 6 mil alqueires de terra”.
🍠De empresa familiar a gigante mundial

Com 32 edifícios, sete linhas de embalamento e mais de 600 mil pés quadrados de armazéns, a A.V. Thomas Produce é hoje a maior produtora de batata-doce da Califórnia
Com 32 edifícios, sete linhas de embalamento e mais de 600 mil pés quadrados de armazéns, a A.V. Thomas Produce é hoje a maior produtora de batata-doce da Califórnia. “Fazemos tudo internamente – desde a preparação das sementes e dos viveiros até ao armazenamento e distribuição. O nosso ciclo começa a 1 de Abril, com a plantação, e termina em Novembro, com a colheita. Durante nove meses armazenamos o produto, o que nos permite abastecer os mercados dos Estados Unidos, Canadá e México durante todo o ano”.
A empresa fornece cadeias de referência como a Whole Foods e a Trader Joe’s, com destaque para a produção biológica. “O Departamento da Agricultura norte-americano reconhece-nos como líder na produção de batata-doce orgânica, embora também vendamos produto convencional”, explica.
🍠Fé, trabalho e raízes
Apesar do sucesso, Manuel Eduardo Vieira nunca esqueceu a sua terra natal. “Com todas as nossas fraquezas e pecados, somos devotos do Divino Espírito Santo”, afirma, com emoção. De regresso aos Açores, dedicou-se à construção do Centro Social, Cultural e Recreativo da Silveira, obra que considera “a mais difícil da minha vida”.
Em 2017, foi homenageado com uma estátua esculpida por Rui Goulart, inaugurada “em frente ao salão que me viu nascer”. Recebeu também duas dezenas de distinções, entre as quais a Comenda da República Portuguesa e a Chave de Ouro n.º 18 da Câmara Municipal das Lajes do Pico. “Esses reconhecimentos enchem-me de orgulho, mas também de responsabilidade. Peço a Deus que me ajude sempre a ajudar qualquer obra que seja benéfica para as comunidades”.
🍠“A América é um país maravilhoso”
Quando lhe perguntamos se a sua história seria possível noutro lugar, responde sem hesitar: “A América é um país maravilhoso. Deu oportunidades a milhões de pessoas, e eu sou um privilegiado porque sou um deles”.

Em 2017, foi homenageado com uma estátua esculpida por Rui Goulart, inaugurada “em frente ao salão que me viu nascer”
Ainda hoje, faz questão de preservar a língua portuguesa. “Quando vim para a América, notei que muitos portugueses misturavam inglês com português. Disse à minha família: quando falarmos português, é só português; quando falarmos inglês, é só inglês. E é isso que sempre fizemos”.
Com fé, disciplina e amor às raízes, Manuel Eduardo Vieira tornou-se símbolo de uma geração de emigrantes que transformou o trabalho árduo em legado. “Sem ambição e sem vontade de progredir, não conseguimos nada. Tudo o que conquistei devo à dedicação, ao rigor e à graça de Deus”.

