Fala por ti…
O meu amigo de há muitos anos, Maurício de Carvalho escreveu um artigo brilhante:
“Neste que foi o pior ano das nossas vidas” … diz o pivot da SIC.
Falas por ti, meu caro … não viveste sob a ditadura fascista, não foste preso e torturado pela PIDE, não foste julgado por um Tribunal Plenário, não penaste na prisão por crimes que não cometeste, por defenderes o que achavas justo, não fizeste a guerra colonial, não te morreram nos braços, vítimas de combates injustificados, amigos do coração, não emigraste “com uma mão atrás e outra á frente” … pois, para ti cujo horizonte existencial vai do estúdio onde pontificas, ao conforto da casa onde vives, passando pelos locais de descanso e prazer que frequentas, “talvez tenha sido o pior ano da tua vida”….
Mas quem construiu o presente de que usufruis e o futuro a que os teus filhos terão justo direito, passou muito pior que este ano pandémico.
E não bastava o afastamento social e uma máscara para nos safarmos ao destino.
Cresce….o universo não acaba no fundo da tua rua.
O Maurício de Carvalho e eu publicámos um jornal diário em Portugal. “O Crime” e com ele aprendemos muitas verdades. É um homem de escrita fina, verdadeira e um observador nato das realidades do dia a dia. Aprendi muito com ele e neste artigo sinto o que ele sentiu com o pivôt da televisão que tentou realçar a pandemia como o pior que aconteceu à humanidade neste século. Não é verdade, quando no passado tantas crianças morreram de fome e nas guerras e quantas mulheres foram abusadas e violadas, quantos se safa- ram ao roubo e à corrupção, tanta coisa nos horrorizou, tanta coisa nos comoveu, tanta coisa nos enfureceu. Nunca há piores momentos….