“Fome acabará até 2030 se pessoas forem priorizadas face ao lucro”

O secretário-geral das Nações Unidas disse que a fome no mundo pode acabar até 2030 se as pessoas e o planeta forem priorizados face ao lucro, destacando que um em cada cinco africanos estavam subnutridos em 2020.

Na abertura do diálogo de alto nível denominado “Fortalecimento da resiliência em nutrição e segurança alimentar no continente africano”, António Guterres reforçou que “os conflitos criam a fome” e que a “crise climática amplifica ainda mais o conflito”, avaliando que estes são “problemas sistémicos” e que “estão cada vez piores”.

Guterres detalhou que 61 milhões de crianças africanas sofrem de atrasos no crescimento, o que pode afectar a sua saúde física e mental ao longo da vida.

“Como sempre, mulheres e meninas são as mais afectadas. Quando a comida é escassa, elas costumam ser as últimas a comer e as primeiras a serem retiradas da escola e forçadas a trabalhar ou casar”, lamentou o ex-primeiro-ministro português.

Apesar da ajuda adicional de 30 milhões de dólares (28 milhões de euros) que anunciou na semana passada para necessidades urgentes de segurança alimentar e nutrição no Níger, Mali, Chade e Burkina Faso, Guterres frisou que o valor se trata de “uma gota no oceano” e que a ajuda humanitária não pode competir com os motores sistémicos da fome.

Além disso, o secretário-geral reforçou que choques externos estão a agravar a situação em África, referindo concretamente a guerra da Rússia na Ucrânia, que levou a um recorde dos preços dos alimentos, voltando a apelar para que as restrições à exportação de alimentos sejam levantadas, reservas estratégicas devem ser libertadas, e que excedentes sejam alocados aos países necessitados.

Guterres aproveitou ainda para referir a questão das alterações climáticas, observando que os agricultores africanos estão na linha de frente dos que mais sofrem com a situação, desde o aumento das temperaturas até as secas e inundações.

“África precisa de um grande impulso em apoio técnico e financeiro, para se adaptar ao impacto da emergência climática e fornecer electricidade renovável em todo o continente. 50% do financiamento climático deve ser alocado para adaptação”, defendeu.

“E os países desenvolvidos devem cumprir o seu compromisso de financiamento climático de 100 mil milhões de dólares (93,27 mil milhões de euros) para os países em desenvolvimento”, sublinhou o secretário-geral das Nações Unidas.