LUSO-DESCENDENTE FOI ‘FASHION DESIGNER OF THE DAY’ EM TALK-SHOW DA REDE ABC
• Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO
Foi um vestido em ganga importada do Japão que colocou há dias a desenhadora de moda Anita da Silva, de Manhattan, no programa ‘Tamron Hall Show’, da rede norte-americana ABC.
“Eles gostaram tanto do modelo ‘Lolita’, da minha actual colecção, que me convidaram para ser ‘Fashion Designer of the Day’”, conta a criadora, em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO, concedida no Hotel Nomad, em Nova Iorque.
O ‘Lolita’, que custa $5,025 e está agora esgotado, foi a locomotiva para que a estilista filha de imigrantes micaelenses a fazer carreira na ‘Big Apple’ mostrasse ao país parte da sua colecção, com um desfile transmitido no já citado talk-show.
Anita da Silva criou há dois anos a marca de pronto-a-vestir de alta qualidade ‘École Primaire’ (‘Escola Primária’, em francês), que tem disponível em loja online e ainda à venda numa boutique de luxo em Montréal. A colecção actual inclui apenas roupa feminina, com a estilista a incluir pela primeira vez uma mala no naipe de opções da ‘École Primaire’. A luso-descendente recorre a materiais amigos do ambiente e opta pela sustentabilidade, recorrendo apenas a mão-de-obra local.
❝NUNCA TIVE NADA DE MARCA ATÉ AOS 16 ANOS, A MINHA MÃE ERA COSTUREIRA E FAZIA A MINHA ROUPA E A DA MINHA IRMÃ❞
➫Anita da Silva, estilista
Nasceu em Montréal e cresceu no seio de uma numerosa comunidade portuguesa. “Cheguei a andar no rancho folclórico da Igreja Nossa Senhora de Fátima”, nota. Os pais, Agostinho da Silva e Maria Moniz da Silva, emigraram da freguesia micaelense de Rabo de Peixe para o Canadá. “Foi onde se conheceram”, conta. “A minha mãe veio com 17 anos para casa de uma tia e era costureira, chegou a faze camisas para homem numa fábrica; o meu pai trabalhou na montagem de linhas para os caminhos de ferro.”
Os Silva fizeram muitos sacrifícios para dar às duas filhas uma educação de primeira e ultrapassar o ciclo de pobreza familiar. “Nós não éramos ricos e a minha mãe fazia toda a roupa para mim e para a minha irmã”, diz a estilista. “Nunca tive nada de marca até aos 16 anos, era tudo de fabrico caseiro. A minha mãe era muito conservadora e não queria que eu usasse calças de ganga.”
Ainda pensou em seguir psiquiatria, mas um ano de universidade foi suficiente para perceber que o caminho era outro. Acabou por formar-se em moda pelo Collège LaSalle de Montréal e, num ápice, estava no mundo do calçado.
❝NOVA IORQUE FOI SEMPRE UMA CIDADE ONDE SONHEI VIVER E TRABALHAR❞
➫Anita da Silva, estilista
Passou por nomes como Wolverine, GH Bass & Co., Bass Love Rachel Antonoff e Aldo, onde desenhou hush puppies, e viajou pelo globo em feiras do sector à procura de tendências. Em 2008, em plena crise financeira, muda-se para Nova Iorque.
“Foi sempre uma cidade onde sonhei viver e trabalhar, influenciada pelo cinema e revistas de moda”, afirma.
Um dos pontos altos de carreira, foi a apresentação da sua linha de pronto-a-vestir na Semana da Moda em Paris.
A estilista quer agora conhecer Portugal continental, tendo já estado múltiplas vezes nos Açores. “Adorava ir a Lisboa”, refere. “Tenho montes de amigos americanos que estiveram lá de férias e adoraram.”