O abraço
Quando te dei aquele abraço, profundo, apertado, mesmo muito apertado, senti em mim que as lágrimas que ambos chorámos não significavam apenas um simples adeus.
Era mais do que isso. A caminho de Lisboa pensei no significado daquele abraço, dos sucessivos apertos, da voz embargada pela dor e pela ausência. Tu sabias que seria o último abraço, o mais sublime e sincero das nossas vidas, o mais profundo e doloroso, porque não me deixaste a oportunidade de te abraçar outra vez. Não te vi o olhar no lusco fusco de um fim de tarde de Primavera mas senti na tua voz um amargo de vida. Sem a mulher da tua vida a teu lado, restava-te apenas olhar o céu azul serrania abaixo, entre pinheiros e eucaliptos. Mais nada.
Eu, longe, tinha-te no coração mas isso não era presença. Precisavas de mais abraços, daqueles simples e sinceros que me davas cada vez que te visitava. Não o último. Esse fez-me tremer porque foi diferente. Era o teu adeus à vida, a vontade de regressares ao carinho da mãe. Felizmente, trago comigo no pensamento que ambos prolongaram a felicidade de mais de 60 anos de casamento. O abraço, esse, nunca mais hei-de esquecer. Porque as nossas vidas são feitas de memórias, de momentos que são toda uma vida de alegria e felicidade, de sacrifício e bondade.
Sentir-te no infinito é a dor que mantenho até ao dia do reencontro. Consola-me saber que apenas mudaste de lugar, só assim, sem avisar, sem mais abraços nem palavras de carinho. Resta a saudade.