‘PEOPLE HELPING PEOPLE NY’: PORTUGUÊS COORDENA ENTREGA DE MAIS DE MIL REFEIÇÕES DESDE INÍCIO DA PANDEMIA

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

Com a colaboração de dezenas de voluntários, associações luso-americanas e donativos, a iniciativa ‘People Helping People NY’ já fez chegar – desde o início da pandemia, para cima de um milhar de refeições a famílias carenciadas e profissionais na linha da frente do combate à COVID-19.

“Nada disto seria possível sem a colaboração de todos”, nota o coordenador da iniciativa, o português Jay Sampaio, 40, de Tarrytown, em declarações ao jornal LUSO-AMERICANO.

A mais recente campanha solidária de distribuição de refeições decorreu sábado, 25 de Abril, com a colaboração de uma equipa de voluntários do Ossining Portuguese Center e do Portuguese-American Cultural Center de Tarrytown. “Começámos ao meio-dia e só acabámos às nove da noite”, diz Sampaio, que cresceu em Vila Nova de Santo André, Alentejo, filho de pai transmontano e mãe moçambicana (veio para a América com 5 anos).

“Tem uma luz especial que transmite entusiasmo e que leva todos estes voluntários a tornarem realidade as suas ideias. Tenho mesmo muita admiração por ele”, diz a advogada Cristina da Silva – também voluntária – de Jay Sampaio

Feitas as contas, o esforço conjunto da equipa ‘People Helping People NY’ tinha-se saldado em mais de 525 refeições entregues a dois braços da organização sem fins lucrativos ‘Open Door Health Services’ [www.opendoorhs.org] – em Ossining e Tarrytown, no condado nova-iorquino de Westchester.

❝QUALQUER PESSOA PODE UM DIA ESTAR EM POSIÇÃO DE TER DE PEDIR AJUDA E ISSO NÃO É MOTIVO DE VERGONHA❞

➔Jay Sampaio,

‘People Helping People NY’

A carrinha pessoal de Jay Sampaio seguiria depois para uma unidade prisional do condado em Valhalla, onde deixou algumas refeições para guards ali de serviço – incluindo o luso-descendente Mike Rodrigues. “Os guardas prisionais estão também na linha da frente mas são muitas vezes esquecidos”, sublinha Sampaio.

As refeições no seu grosso foram confeccionadas nas cozinhas dos clubes portugueses de Tarrytown e Ossining, com o aval das respectivas direcções, “mas, graças a muitas outras ofertas de famílias portuguesas, pudemos acrescentar alguns mimos como guloseimas e doçaria”, diz Jay Sampaio.

Dias antes, e com o pai, Júlio, aos comandos da cozinha, o português fizera chegar 150 refeições ao YMCA de Tarrytown, a um grupo de famílias afectadas pela COVID-19 em Westchester, a 80 técnicos de primeiros-socorros da FDNY no Harlem e a membros da polícia em Yonkers, Sleepy Hollow, Ossining e Briarclif Manor.

“Para as refeições confeccionadas em Tarrytown, os produtos foram pagos por nós; em Ossining, o Centro fez questão de ficar com a despesa, o que é muito louvável”, revela.

❝QUALQUER PESSOA PODE UM DIA ESTAR EM POSIÇÃO DE TER DE PEDIR AJUDA E ISSO NÃO É MOTIVO DE VERGONHA❞

A entrega de 80 refeições a uma unidade do FDNY de técnicos de primeiros socorros no Harlem, podendo-se ver o luso-americano Marco Girão à esquerda e a seu lado Jay Sampaio

➔Jay Sampaio,

‘People Helping People NY’

A advogada Cristina da Silva, que participou já em diversas actividades da ‘People Helping People NY’, incluindo as de assistência a desabrigados em Manhattan, considera Jay Sampaio “o nosso líder. Na verdade, o Jay criou uma autêntica onda de solidariedade e nós, carinhosamente, chamamos-lhe o ‘nosso líder’. Não só pelas qualidades de liderança que demonstra, mas sobretudo por ter feito de todos nós, voluntários, a oportunidade de podermos estar em posição de ajudar quem precisa, fazendo de nós também melhores deres humanos.”

Os pais do Jay, adianta a advogada, “educaram um filho cheio de compaixão e com um coração de ouro. Tem uma luz especial que transmite entusiasmo e que leva todos estes voluntários a tornarem realidade as suas ideias. Tenho mesmo muita admiração por ele.”

Fazer o bem sem olhar a quem é lema que norteia há muito este ex-condutor de pesados que ficou incapacitado depois de um acidente de trabalho. Para além de dar apoio a famílias de militares na região, a ‘People Helping People NY’ leva ainda ajuda a desabrigados em Manhattan que recorrem à St. Francis of Assisi Church, junto à Penn Station [https://stfrancisnyc.org], e com cuja arquidiocese trabalha me parceria.

A ‘People Helping People NY’ também levou ajuda a profissionais de saúde no Westchester Medical Center, em Valhalla, NY

“São campanhas que repetem-se cerca de 5 vezes por ano”, afirma. “Levamos roupa, máquinas para fazer café, sopa, kits com produtos de higiene e até, às  vezes, barbeiros profissionais, para que possam cortar o cabelo.”

Jay Sampaio refere que as campanhas em Manhattan terão de ser repensadas face à crise da COVID-19, mas não as descarta.

O bom samaritano diz herdado dos pais, Ana e Júlio Sampaio, o espírito de ajuda ao próximo. “Comecei a ajudá-los nas festas beneficentes que faziam no PACC de Tarrytown para causas em Portugal e Moçambique. E assim peguei-lhe o gosto.”

Em 2017, com a ajuda dos pais, da irmã e de primos, serviu 200 refeições de Thanksgiving num abrigo em Valhalla, NY; para o Coachman Family Center, em White Plains, “em quatro dias, com a ajuda de muita gente, arranjámos mais de 600 prendas de Natal para crianças menos favorecidas.”

Jay Sampaio tem ainda tempo para estar a semana inteira – e desde que a COVID-19 nos trouxe a pandemia – a entregar refeições escolares aos alunos do Liceu de Sleepy Hollow.

“Nunca falo no singular”, faz questão de dizer Jay Sampaio. “Uso sempre os verbos no plural porque nada disto seria possível sem a colaboração de todas as pessoas que tornam possível o projecto ‘People Helping People NY’.”

Nem sempre que mais precisa é quem pede ajuda, lembra. “Qualquer pessoa pode um dia estar em posição de ter de pedir ajuda e isso não é motivo de vergonha.”