Recomeçar

por Luis Pires

Quando a pandemia acabar, tenho a certeza que a palavra mais badalada será “recomeçar.” Isto, porque o mundo parou durante meses por causa dos medos e o medo é um mal que nos deixa de rastos, que nos enerva e destrói sonhos, vontades e momentos. Tal como a felicidade, o medo ultrapassa tudo o que podemos imaginar. Andámos assim durante meses à espera da tão ansiada vacina, prisioneiros na nossa própria vida, às vezes sem vida, sem meios, sem nada. Imagino as famílias que em Janeiro tinham a sua felicidade garantida pelo seu emprego e de repente, de um momento para o outro, viram o seu sonho desfeito. Primeiro foi a epidemia, depois a pandemia e agora é a falta de alegria, porque ninguém sabe o que aí vem. Se vamos ser imunes, curados, reinfectados ou se vamos morrer da covid que não pára de fazer estragos por esse mundo fora. Já me perguntaram se a máscara era para toda a vida. Hoje, digo com franqueza que não sei, porque nin- guém sabe, nem as mentes mais brilhantes ultrapas- sam o contágio que todos sentimos.

Recomeçar é uma palavra difícil, na medida em que já começamos mas nunca recomeçámos. Não conhecemos o sentido da palavra e o que a compõe. O que nos espera, como reagir a adversidades e situações menos concretas. Deixámos de ter certezas, agora há (ses). Deixámos de ter garantias para ter incertezas. O mundo mudou por causa de uma doença invisível que causou o medo quando o medo era uma guerra ou um terramoto. Mas este medo superou tudo, este medo dominou governos, países, sociedades, famílias, tudo.

Hoje em dia a única certeza é saber que horas são.