RECUPERADA DE COVID-19, CABELEIREIRA PORTUGUESA EM NOVA IORQUE QUER DOAR PLASMA E SALVAR VIDAS…

Por HENRIQUE MANO | Jornal LUSO-AMERICANO

Uma semana depois de ter encerrado o seu salão de beleza na cidade nova-iorquina de Yonkers, em Westchester, Cristina Marques descobriu que estava infectada com o coronavírus.

“Fiz o teste através do meu médico mais por precaução, porque vivo com a minha mãe que é idosa”, conta a profissional do ramo da beleza, em entrevista exclusiva ao jornal LUSO-AMERICANO. “Não tinha sequer os sintomas clássicos da doença, como febre e tosse, mas depois disso perdi os sentidos do sabor e do cheiro.”

Como profissional no sector da manutenção de beleza, Cristina Marques é a prova de como as cabeleireiras estão num ramo de risco elevado pela proximidade física com o cliente

Marques, proprietária desde 1999 de um popular cabeleireiro na Central Avenue, o ‘Contempo Hair design’, onde gera 8 postos de trabalho, passou o período de recuperação em casa e nunca foi hospitalizada. “Foram duas semanas de recuperação e agora estou pronta a doar o meu plasma para ajudar quem ainda está infectado e a lutar contra a doença”, afirma.

❝FIZ O TESTE ATRAVÉS DO MEU MÉDICO MAIS POR PRECAUÇÃO, PORQUE VIVO COM A MINHA MÃE QUE É IDOSA❞

➔Cristina Marques, cabeleireira

proprietária do ‘Contempo Hair Design’

Para a cabeleireira, que nasceu em Cantanhede e vive na América desde a década de 80, “o mais difícil durante a recuperação foi estar constantemente preocupada em não passar o vírus à minha família. É uma ansiedade muito grande, sobretudo porque fui diagnosticada durante o pico da pandemia, quando as notícias eram todas más. Estava sempre à espera do pior, mentalmente é um grande desgaste. Nunca se está preparado para nada como isto, não sabemos como actuar, foi muito assustador.”

❝ESTAVA SEMPRE À ESPERA DO PIOR, MENTALMENTE É UM GRANDE DESGASTE. NUNCA SE ESTÁ PREPARADO PARA NADA COMO ISTO ❞

➔Cristina Marques, cabeleireira

proprietária do ‘Contempo Hair Design’

Fachada do ‘Contempo Hair Design’, em Yonkers, NY, agora encerrado Oferecem perucas de cabeça

Como profissional no sector da manutenção de beleza, Cristina Marques é a prova de como as cabeleireiras estão num ramo de risco elevado pela proximidade física com o cliente.

Dadora de sangue desde há 4 anos no New York Blood Center de Dobbs Ferry, em Westchester (“e também já doei medula óssea”), Marques está disposta agora a fazê-lo com o seu plasma para salvar vidas. “Devo confessar que não está a ser fácil, por causa do processo burocrático por que se passa”, explica. “Vemos apelos na TV para as pessoas recuperadas darem plasma, mas estou à espera de uma resposta há mais de uma semana.”

Enquanto está de quarentena e espera ordens do estado de Nova Iorque para reabrir o salão, Cristina Marques aproveitou para tirar um curso de técnicas de esterilização online. “Foi muito útil e aconselho todas as pessoas neste ramo de actividade a fazê-lo”, diz. “Os salões de beleza nunca mais vão ser os mesmos.”

❝APROVEITEM A QUARENTENA PARA SE ACTUALIZAREM NAS VOSSAS ÁREAS DE ACTIVIDADE, TIREM CURSOS ONLINE, MELHOREM❞

➔Cristina Marques, cabeleireira

proprietária do ‘Contempo Hair Design’

Para quem está em casa e tem de se preocupar com a aparência, por razões profissionais ou outras de força maior, Cristina Marques lança o repto: “Consultem um profissional por telefone ou online. Não façam nada em casa de que possam vir mais tarde a arrepender-se.”

A professional adianta que, quando reabrirem, os cabeleireiros terão de alterar o seu modus operandi. “Vamos levar muito mais tempo, por exemplo, a atender uma cliente porque vamos ter de desinfectar a área por onde ela passar antes de recebermos a próxima. Vou exigir que usem máscaras e o tempo de socialização dentro do salão também terá de acabar. Tinha clientes que chegavam a aparecer muito antes da hora marcada para um bom dedo de conversa.”

Para quem está em casa e tem de se preocupar com a aparência, por razões profissionais ou outras de força maior, Cristina Marques lança o repto: “Consultem um profissional por telefone ou online. Não façam nada em casa de que possam vir mais tarde a arrepender-se.”

A cabeleireira nota que, no sector feminino, uma das grandes preocupações durante a quarentena é a raiz do cabelo. “Para algumas clientes, cheguei a fazer um kit de beleza para levarem para casa com instruções de como usar.”

A imigrante de Cantanhede, que durante 5 anos foi presidente do Portuguese-American Community Center (PACC), lembra a todas as pessoas em quarentena “que se pode aproveitar de forma muito útil o tempo em que se está em casa. Actualizem-se nas vossas áreas de actividade, tirem cursos online, melhorem.”

Muito embora não vá a casa de clientes, Cristina Marques está disponível para consultas telefónicas sobre questões de beleza através do (914) 774-3046.