Suicídios

por Luis Pires

Já, em função da minha profissão presenciei algumas vítimas de suicídio. Curiosamente procurei sempre saber as causas. A mera curiosidade do porquê. Salvo raras excepções, nunca encontrei uma resposta concreta que levasse ao extremo de alguém querer acabar com a vida.
Se pensarmos que estamos dentro de uma casa fechada com portas e janelas há sempre por onde sair. Fecha-se a porta, abre-se uma janela, fecha-se uma janela abre-se uma porta.
Conversei com familiares de pessoas que se suicidaram e fiz perguntas. Em muitos casos eram pessoas com posses, bons empregos, dinheiro, carros de luxo e famílias felizes, mas essa aparente felicidade não os preenchiam. Uma vez encontrei com a polícia um homem pendurado numa árvore do jardim de Belém mesmo em frente à residência do Presidente da República. Mesmo ao lado há uma esquadra. Eu conversava com um agente no exterior quando lhe chamei atenção para algo que me parecia ser um homem pendurado numa árvore a uns 100 metros. Passavam poucos minutos das 6 da manhã e chuviscava. Corremos para lá e na verdade o corpo balouçava. Olhei-lhe o rosto roxo e inespressivo. Perguntei: porquê? Obtive a resposta da cunhada alguns dias depois. A mulher do suicida morrera de cancro e sentia-se só. Pensou e muito povavelmente não encontrou a tal janela da vida.
Preferiu o pior caminho.
No Alentejo, em Borba, presenciei um caso semelhante. Um homem de 83 anos, viúvo, decidiu acabar com a vida. Não tinha família e contava com meia dúzia de amigos. Contou-me um deles que nos últimos tempos andava cala- do e muito reservado. Dizia aos amigos que não havia mais nada no mundo que não fossem as planícies alente- janas. E havia. Foi consumido pela solidão, desencantado com o que via. Para si, nada existia, além do horizonte.