UNIVERSIDADE DO PORTO: Portugueses inventaram ‘espião’ do cancro do pâncreas

Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto conseguiram, através de um “espião colorido”, mapear a comunicação do cancro do pâncreas, abrindo portas para novas terapias, foi esta semana anunciado.

Em comunicado, o instituto da Universidade do Porto esclarece que o estudo, publicado esta semana na revista ‘Nature Communications’, permitiu “pela primeira vez mapear a comunicação do cancro do pâncreas”, cancro com elevada taxa de mortalidade.

Para conseguirem avançar com o mapeamento, os investigadores criaram um “espião colorido”, que permite “acompanhar a viagem das vesículas que são decretadas pelas células tumorais pancreáticas”.

“Imaginemos um ‘big brother’ dentro de um pâncreas com células tumorais, uma espécie de espião que permite perceber tudo o que acontece e, especificamente, como é que este tipo de cancro se desenvolve de forma silenciosa”, refere o i3S.

Apesar de se saber que as células cancerígenas do pâncreas segregam vesículas extracelulares e que essas vesículas estabelecem a comunicação local e à distância a outras células, desconhecia-se a forma como as vesículas se distribuem no espaço e tempo, que órgãos as recebem e qual o impacto.

Para dar resposta a estas hipóteses, os investigadores criaram “um ratinho geneticamente modificado com um cancro do pâncreas, cujas células tumorais segregam vesículas com cor”.

“Isso permitiu-nos mapear com que células e órgãos estas vesículas comunicam, que mensagens transmitem e de que forma ajudam o tumor a desenvolver-se”, afirma, citada no comunicado, Sónia Melo, que liderou a investigação.

Durante a análise da distribuição das vesículas e progressão do tumor, os investigadores concluíram que “a comunicação não é aleatória, mas sim direccionada e coordenada, por forma a permitir a progressão da doença e modificar órgãos à distância a seu favor”.

“Um dos principais órgãos que recebe comunicação destas vesículas segregadas pelas células tumorais pancreáticas é o timo, onde são produzidas as células do sistema imunitário”, esclarece a investigadora.

De acordo com Sónia Melo, a informação que o pâncreas envia “poderá modificar a resposta imune ao tumor, impedindo as células imunes de o reconhecer”.

A distribuição das vesículas de células tumorais do pâncreas foi comparada com o percurso feito pelas vesículas de um pâncreas saudável, tendo os investigadores provado que, quando provenientes de um pâncreas sem cancro, estas vesículas “são importantes para conter a angiogénese”.